“Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação”. O povo de Deus, que caminhava no deserto, seguia guiado pela Palavra libertadora de Deus rumo à terra prometida de paz e prosperidade. Anunciado pelos profetas, Cristo se encarna no seio virginal de Maria. Sua encarnação é um ato amoroso de humilhação de Deus que, feito homem, vive como homem e sofre as tentações como homem. Jesus não quis abdicar-se de nada, viveu como os seus, tendo fome, sede, família, amigos e até mesmo morrendo. Morre como um bandido, morre na pior das humilhações, sua dignidade é-lhe arrancada. “Aquele que se dizia Filho de Deus agora se vê morto. Como pode um Deus morrer?” – pensavam os que tinham prendido e matado Jesus. Tudo isso para devolver a nós a dignidade de filhos e filhas de Deus. No entanto, vencendo a morte, Ele ressuscita após três dias. E agora?
Pois bem, crente na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus é que a Igreja vai seguindo no anúncio do Evangelho nestes quase dois milênios. É esta a fé da Igreja e, é por esta fé que muitos foram capazes de entregar a própria vida (veja o exemplo dos apóstolos de Jesus). Hoje, como continuadores do anúncio salvífico por meio da missão que recebemos em nosso Batismo, somos convidados a esforçar-nos de modo real pela salvação própria e dos irmãos. Afinal, ninguém chega a lugar nenhum sozinho. O céu não é lugar para os egoístas, mas para os que se doam amorosamente pelos irmãos. Por acaso, quem nos ensinou isso? Não foi o próprio Cristo? “Amou os seus e, tendo amado-os até o fim deu a própria vida em resgate deles” (Mc 10, 45). Não é raro encontrarmos “cristãos” que dizem “o problema é dele e não meu”, “ainda bem que não é comigo”, “cada cabeça uma sentença”; mas não é dessa forma que nosso Mestre, Jesus, nos ensinou. Na ceia com seus apóstolos, Jesus toma consigo jarro e bacia e lava os pés de seus discípulos dizendo-lhes: “Assim como hoje lavo os vossos pés (sou vosso servo), façam o mesmo a quem encontrarem (sirvam com amor a todos) (Jo 13, 12 – 15). Logo, analisemos nossa caminhada... temos servido nossos irmãos com o mesmo amor com que Cristo serviu? Seja sincero! Não! Por este motivo, a Igreja nos convida sempre à conversão (eis o grande chamamento feito durante o Tempo Litúrgico em que estamos: a Quaresma). “Convertei-vos e crede no Evangelho” – com essas palavras abrimos este tempo de introspecção, análise e mudança de vida. Essas palavras foram mencionadas no momento que recebíamos as cinzas na “Quarta-feira de Cinzas” e, além disso, era nos proposto uma maior intensidade nas práticas de jejum, caridade e oração, tendo em vista o aperfeiçoamento e a “lapidação” nos moldes de um verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo.
Pelo jejum e pela caridade podemos nos aproximar daqueles que mais sofrem, e onde está um irmão sofrendo, Cristo está presente nele (Mt 25, 40). Conseqüentemente se conseguirmos encontrar a face de Cristo no mundo, por meio dos menos favorecidos (doentes, pobres, crianças e idosos abandonados, destruição do meio ambiente – como é-nos proposto pela Campanha da Fraternidade deste ano), conseguiremos elevar a Deus uma sincera oração, proveniente de um coração que sabe amar como Ele mesmo nos amou, atuando na realização definitiva do Reino de Deus.
Não podemos nos esquecer que a quaresma é um grande tempo de preparação para a maior festa da Igreja, que se aproxima: A Páscoa, noite em que, pela ressurreição do Senhor, nós fomos libertos das cadeias da morte. E, novamente, tudo isso é feito por amor de Cristo à humanidade. Portanto, se quisermos ser como Jesus, devemos diariamente agir por amor, com amor e no amor. Servindo a todos com o mesmo amor com que Cristo serviu os seus irmãos e, principalmente, os pecadores e marginalizados. Dessa forma, não cantaremos o Aleluia de forma meramente ritualista, mas cantaremos com a própria vida, expressa nos seus mais diversos atos. Entoaremos Glória a Deus nas alturas com a força de filhos renascidos na graça, possuindo como finalidade a configuração a Cristo e, assim, amando como Ele amou; vivendo como Ele viveu; instaurarmos, todos juntos, um Reino de Justiça, Amor e Paz.
Que a Luz da vida e do mundo, que é o próprio Cristo, possa resplandecer em nossa comunidade e em nossas vidas!
Seminarista Athila José Tintino
Seminarista da Arquidiocese de Botucatu,
Contato: seminarista.athila@gmail.com
Este texto nos inculte de fato como deveriamos viver este tempo de conversão o qual a Santa Igreja nos propõem. Belas palavras expondo de maneira susinta e objetiva o que de fato é este tempo de quaresma.
ResponderExcluirParabéns e continue sempre a nos abrilhantar com textos de qualidade e conteúdo.
um abraço.